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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Relato: Protesto no Rio de Janeiro - 20/06/2013

 

Quinta feira, 20 de Junho de 2013. Um dia no qual jamais irei esquecer. Mais um dia de protestos na cidade do Rio de Janeiro e eu - cansada de protestar pelo computador - dei a cara a tapa e fui para as ruas protestar e lutar pelo país que um dia eu tenho certeza que verei. Foi a primeira vez que sai em um protesto e resolvi compartilhar aqui o relato desse dia.

Marquei com um grupo de amigos na estação aqui da cidade (Nova Iguaçu). Logo que chegamos já vimos diversos cartazes nas mochilas e gente com blusa do Brasil. Juntamos nossa galera e assim que entramos no trem percebemos que quase o vagão todo era de manifestantes. Com o passar das estações a galera foi entrando mais e mais até que o vagão lotou de jovens manifestantes. Começamos a cantar e chamar o povo a cada parada do trem. A galera se dividiu, no vagão mesmo, para pintar o rosto de verde e amarelo, distribuir apitos, nariz de palhaços e fazer cartazes. Muitas vaias, obviamente, quando passamos em frente ao Maracaña e nos deparamos com uma quantidade absurda de PM's. Nesse momento já tinha valido a pena sair de casa, nunca na minha vida esperei ver tantos jovens querendo mudar o Brasil, mas a minha surpresa ainda seria maior.

Quando saltamos na Central era por volta de 15h45 e a massa saiu do trem, cantando o hino nacional e convocando a galera para nos acompanhar. Uma pequena reunião e agrupamento rolou na saída da central. As pessoas nos ônibus aplaudindo, um senhor de idade, com a cara pintada e um cartaz, chegou perto da gente e disse que era isso mesmo, que íamos mudar o Brasil e que ele era jovem também. A PM apenas avistou de longe e seguimos nosso caminho para a Candelária.

No caminho nos juntamos com um outro grupo e fomos pacificamente cantando pelas ruas. O povo no trânsito respeitando o máximo os manifestos e os guardas de trânsito nos ajudando também. O legais é a cara das pessoas nos prédios e portarias nos olhando, aquele sorriso no rosto e a expressão de: CARACA, É ISSO MESMO QUE EU TÔ VENDO? Pois é amigo, é isso mesmo, e é só o começo. Vi gente de tudo que era idade, desde criança de 14 anos até senhoras de 65. Mães com suas filhas, gente que saiu do trabalho e foi de uniforme mesmo pro protesto, senhores de idade, casais, professores. Vi de tudo, e fiquei feliz a beça por essa diversidade tão grande de gente na mesma luta.


Quando encontramos o resto da concentração do movimento na Presidente Vargas na altura da Candelária, o carro de som já dava as coordenadas no manifestos e ficou CLARÍSSIMO, pedido e repetido: SEM VIOLÊNCIA! Cantamos e seguimos em direção a prefeitura. Quase 2 km de Presidente Vargas na nossa frente e para nós, era pouco. Os morados dos prédios da avenida jogaram papel branco pela janela, em apoio aos manifestantes. Foi uma cena linda, não conseguiria imaginas caso alguém me contasse. De arrepiar!

As críticas dos manifestantes através dos cartazes são cada vez melhores, e não só os cartazes, eu vi nesse protesto, cavalo de tróia para a Dilma, boneco de Judas do Marco Feliciano, blusas pintadas, entre outros.. Vi manifestantes querendo aparecer, subindo em cima de pontos de ônibus e imediatamente a massa começou a gritar para eles descerem e pediram sem vandalismo. E repudiou as bandeiras partidárias e pregou que o movimento é do BRASIL. Vi pichações nos pontos de ônibus de "Fora Dilma". Até então, coisas normais de manifestos.

Nunca cantei tanto o hino nacional na minha vida, nunca me senti tão patriota, não tive tanto orgulho de vestir essa camisa e lutar pelo meu país. Hoje foi um dia histórico não só para o Brasil, mas para minha consciência como cidadã e eleitora também. Me arrepiei inúmeras vezes. Você olha panoramicamente a sua volta e só vê pessoas, cantando, protestando. Você não faz ideia da quantidade de pessoas que estão ali, sabe apenas que é um grão de areia no meu daquele areal inteiro cobrindo a avenida. E ser um grão de areia faz toda diferença nessa história.

O protesto seguiu pacífico até a altura da Central do Brasil, e logo depois, ouvimos boatos de tumulto e PUTZ! Ouvimos a primeira bomba, sei lá do que, sei lá por que. A galera começou a correr e nessa MUITA gente foi embora. Eu e meu grupo pulamos a grade que separava a rua da calçada e a galera do manifesto começou a pedir o povo para sentar-se, para a policia entender qual é a nossa intenção: SEM VIOLÊNCIA! Fizemos isso, começando a cantar e logo tudo se estabilizou. Continuamos seguindo, e o apoio nas ruas era notório. A galera piscava as luzes nos prédios, colocaram pano branco na galera, cartazes para fora e bandeiras do Brasil. Coisa linda de ser ver. Até que chegamos próximo a prefeitura.


Sabíamos que a intenção da polícia era nos manter afastados da prefeitura, afinal, nada pode acontecer com os santos e bons governantes, com toda ironia possível na frase. Quando a galera começou a chegar, teve retenção por parte da polícia. Começamos a ouvir bombas de novo. (??) Continuamos a diante. Nisso o número de gente ainda era MUITO grande, mas bem menor do que no inicio. Passávamos por debaixo das pontos da Avenida e elas estavam cheios de repórteres e jornalistas, que no exercício de sua profissão, não poderiam estar gritando com cartazes ao nosso lado, mas estavam gritando lá de cima, com suas câmeras fotográficas na mão. Deu um orgulho tão grande no meu peito! A luta é de todos nós! Finalmente entendemos isso. Só falta os policiais entenderem isso, e por falar neles.. Já sabíamos que estava rolando um pequeno confronto na frente. Os manifestante protestaram na frente da policia, coisas que eles não gostaram, e ai começaram a atacar. Nesse momento vou contar o QUANTO fui sortuda. Por sorte, um pouco antes de ficar bem louco o manifesto, sentamos no chão (a pedido do movimento) e eu mandei mensagem avisando: "Manhê, não acredite na mídia. Estou bem! hehehe"  guardei na minha mochila tudo que estava nas nossas mãos (cartazes, celular), estava com peça de roupa na mochila que foi útil para proteger o rosto, amarrei o cabelo e continuamos cantando, quando 5 minutos depois... GÁS LACRIMOGÊNIO! Tumulto, correria, vi três ambulâncias passando. Começamos a caminhar em direção contrária a que estávamos, seguindo o fluxo que fugia do gás, mas logo ele nos alcançou. Eu não estava de máscara, não tinha vinagre e nem sabia como proceder em caso desses. Estava de nariz de palhaço, que me ajudou bastante, e para minha sorte, havia passado bastante perfume em casa (também não sei pra quê) e quando o gás me atingiu, comecei a cheirar o perfume da blusa. Foi a minha salvação. Meus olhos queimara, minha garganta também, o cheiro é horrível. Covardia pura por parte da polícia. E continuamos gritando "SEM VIOLÊNCIA", caramba, é difícil nos ouvir?

Ficamos juntos e conseguimos nos afastar, andamos, andamos.. E paramos em ato solene, todos cantando o hino nacional em coro GIGANTE enquanto a porrada comia lá na frente. Vimos, um pouco de longe, quando o carro do SBT RIO começou a pegar fogo, não fazíamos ideia do que estava acontecendo lá na frente, volta e meia ouvíamos uma informação torta de alguém que recebeu um telefonema de amigo ou família que ou estava mais na frente ou estava vendo tv. Parecia que tinha algo na avenida que impedia sinal de telefone e internet, teoria da conspiração? Talvez! Mas eu não vi nem uma, nem dua pessoas reclamando disso, eu vi VÁRIAS! Meu sinal ficou 90% do tempo que fiquei no protesto fora do ar. Não dava para termos qualquer notícia sobre o que estava rolando através da mídia. Decidimos ir embora, cansados, chateados com a violência, mas felizes com o dever cumprido. Nesse momento não sentia mais minhas pernas, muito cansadas! Estou escrevendo isso caindo em cima do notebook de tanto sono, mas se deixar para amanhã o relato perde a emoção.

Quando chegamos na central o clima era deprimente. Vi muitas crianças de rua, CRIANÇAS MESMO, tipo 5 anos! Lá expostas a polícia e ao descaso público. Vi uma mulher atingida com bala de borracha no peito, ela também estava com a cabeça ensanguentada, não sei ao certo o que houve com ela, mas estou preocupada e com a imagem dela até agora na minha cabeça. Enquanto entrávamos na central, víamos muita gente saindo, chegando ainda pro movimento. E isso já era 20:30! Na fila pro bilhete, mais cantos de xingamento ao Sérgio Cabral, que por falar nele, foi o mais xingado sem sombras de dúvidas no protesto. E ele sabe muito bem o porque de todas esses xingamentos. Na  volta para casa, tudo tranquilo. Sem violência, muita cooperação da galera, viemos conversando com outros passageiros, dividindo as experiências vividas no protesto.

Gente, do nosso lado (manifestantes) não vi violência. Vi apenas manifestações! Só que o povo não é bobo, não vai apanhar calado, partiu para cima da polícia também. Não sou a favor da depredação do patrimônio público, nem de vandalismo, mas tem certos casos que precisam acontecer para que os governantes tomem uma atitude. Cansamos de sermos pacíficos e amáveis. Já demos tempo demais para eles roubarem, agora chega! Queremos resgatar o nosso Brasil. Queremos lutar pelos nossos direitos e exigir qualidade de vida e desenvolvimento humano. Vamos para ruas e não vamos mais nos calar!

Quando cheguei em casa e me adentrei das noticias do dia, vi que morreu um manifestante em Ribeirão Preto - SP, e depois de um dia lindo, meu peito se encheu de tristeza. Perdemos um soldado, um guerreiro nessa luta que deveria ser o básico presente em nossas vidas. Uma pessoa morreu tentando melhorar o Brasil, tentando fazer daqui um lugar digno de verdade para se viver, e não apenas ser mais um cartão postal para gringo. Você, seja lá quem foi, entrou para história! Você morreu, mas vamos continuar na luta, por você, por nós, pelo futuro, pelas crianças, pelo Brasil.

Acabou o sonho, políticos corruptos! O Brasil acordou!

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