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terça-feira, 20 de agosto de 2013

O hoje e o amontoado de mim.


Não quero falar do passado. Também cansei de falar do futuro. Vamos conversar sobre o hoje, pode ser? É, podemos conversar sobre as luzes da cidade - que fica linda vista aqui de cima - ou podemos falar de como estamos cansados dessa rotina estressante. Vem cá, senta aqui também, me ajuda a achar as coisas boas que ainda fazem a gente caminhar. Sem planos por hoje, sem nostalgia, sem aquele mimimi. Vamos apenas analisar o nosso agora, sem dramatizar as coisas. 

Me contaram uma vez que você é o resultado de suas escolhas. Mas o que não contam é que nem tudo que você escolhe faz parte de você. Tem um milhão de coisas que eu não escolhi que eu carrego comigo hoje. Talvez seja culpa minha, que errei os passos, talvez. Gosto de sentir esse vento no meu rosto, está sentindo? Como se fosse um sopro de Deus, um carinho de mãe, um vai ficar tudo bem do destino. Sabe, hoje eu sou muito menos eu do que quando eu tinha meus 17 anos. E deveria ser ao contrário, né? Ao longo da vida, fui deixando manias, jeitos, opiniões e amores. A bagagem é pesada. E nessa vida, menos ainda é mais. Acabei virando um amontoado de mim. Tudo aquilo que ainda me sobrou, coloquei entulhado no quarto dos fundos da alma, já nem sei mais qual meu cantor favorito, nem o lugar que eu me sinto melhor no mundo. Mas sei que gostei de estar aqui, agora, falando com você. Decidi parar de querer me conhecer e resolvi me deixar simplesmente ser, ser Maria e Madalena quando couber, ser azul e rosa, ser frágil e forte. Acho que você nunca vai me entender, pois eu não sou uma, sou tudo que já quis e sonhei, sou tudo que jamais pensei, tudo dentro de mim. 

Sou como essa cidade, aqui e agora. Carros vão e vem, pessoas vão e vem. Ela acolhe a forma de ser de todos, mas ninguém sabe quem ela é de verdade. Gostei disso, talvez eu seja uma cidade de mim. Meu coração é a capital, fazendo eu quebrar a cara na maioria das vezes. Só quero deixar as coisas mais bonitas, sabe? Quero poder ter a alegria todos os dias da minha vida, independente das circunstâncias. Tá, é difícil, mas eu quero. É o meu hoje, e quando meu amanhã for meu hoje quero sorrir de novo. Tá, não vou falar sobre o futuro, nem quero. Houve uma época que via o futuro como algo que se pode planejar, mas depois de umas surras da vida, entendi que ele simplesmente vai te levando, de uma calçada para outra, até a avenida principal e lá você segue a vida, sem saber se gosta ou não, sem saber se é certo ou não, você apenas segue, porque acredita que é o que se deve fazer. 

Hoje eu levantei da cama e deixei um punhado de cabelos no meu travesseiro, notei uma marca de expressão no meu rosto e recebi um telefonema do meu irmão falando que passou na faculdade. Notei o tempo passa mais rápido do que ele deveria passar. Foi ai que decidi não falar do passado, nem do futuro... Tentativa em vão. Acho que eles entram naquele amontoado que eu falei, né? Faz parte de mim. Passei a vida toda preocupada com o que as pessoas iam dizer e hoje eu só quero saber o que eu estou dizendo, o que meu coração quer. Quero descer desse prédio com a certeza se quero continuar na Avenida principal, ou se quero pegar um atalho, ou de volta para casa, ou para outro planeta. Mas quero, nem que seja por hoje, a certeza de que não sou em vão, não sou só um corpo em movimento perambulando por aí, fingindo diversão. Acho que vou dormir aqui hoje, aqui me sinto mais perto do céu, mais comigo, longe do mundo. Pode ir, vou ficar bem. 

Essa noite eu só quero olhar para essa cidade aqui de cima e descobrir como não ser apenas mais uma luz de janela iluminando a cidade. 

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