Olhando assim, parece que meus olhos estão maiores, minha boca ganhou um formato bonito. Meus cabelos finalmente chegaram ao ombro e eu prometi que não vou mais cortar a franja. Meu corpo também mudou, minhas pernas e braços, minha forma de andar e falar, até mesmo o olhar. A forma de olhar e ver o mundo, a forma com que me expresso e olho para dentro de mim. As ideologias se expandiram, e alguns paradigmas foram quebrados, Mudei meu gosto musical, estilo, vocabulário e leituras. Aprendi a conviver sem algumas pessoas, ganhem outras pessoas. Ganhei algumas verrugas e minha unhas cresceram bastante.
E olho de novo pro espelho, eu sou tudo que sinto, que vivo, que falo. Sou tudo que me rodeia e que eu sonho. Sou esse quarto bagunçado, sou esse amontoado de roupas no guarda-roupas e de ideias na cabeça. Sou aquele plano que precisa de outros 10 antes para se realizar. Sou presente e passado. Sou estranha na minha loucura e normal na minha maturidade. Sou um pouco de tudo, sem definições e sem tipo. Mas o espelho só me reflete um EU! Aquele que eu uso para sair por ai, para sorrir a todos a minha volta. A cara que eu uso, aquela que é de pau, de chata, de reclamona. Mas é uma querida! A cara que eu do a tapa diariamente com cada opinião expressada e a cara que, vendo no espelho, mudou tanto. É só essa que você conhece. Só você conhece, eu, por exemplo, nunca a vi. É bonita? Pelo espelho eu vejo que dá para melhora-la, mas não tá ruim não. Nunca estamos satisfeitos mesmo.
Mas de verdade, eu sou muito mais que esses traços que vocês conhecem, sou muito mais que meu tênis sujo e meu casaco rasgado. Eu gosto de ser bem vestida, mas não dispenso meus trapos. Você não conhece os traços da minha alma, não conhece a verdade que existe dentro do meu coração. Você não sabe que eu sonho ouvindo uma música, você não sabe que eu fico sem graça com um elogio, você não sabe que eu sorrio quando vejo as luzes da cidade. E você nunca vai saber se isso é verdade ou mentira. Eu sou uma incógnita até para mim e você ainda quer me convencer que me conhece? Bem, então me conte quem eu sou. Também quero saber.
Eu no auge da minha crise existencial, descobri que sou aquele monte de coisas que já quis um dia, tudo que faltou ser, tudo que sobrou em mim e virou banal, sou os medos antigos e atuais, sou os sonhos presentes também, sou um pouco dos meus pais, sou um pouco do que a astrologia diz, sou um pouco do que minha alma me diz. E o resultado disso, é uma equação. Mas eu nunca fui boa de matemática, prefiro nem resolve-la. Deixa eu me perder por dentre minhas linhas, deixa eu brincar de me achar nas palavras e me perder de novo quando chegar o ponto final. Deixa eu brincar de ser o que quero, hoje uma, amanhã duas de hoje.. Sempre me intensificando, até descobrir qual o reflexo que mais gosto de ver no espelho. Porque não é só na aparência que mudamos, a alma muda muito mais depressa, e essa mudança, seus olhos não acompanham. É silenciosa, aqui dentro, em cada batida do meu coração.
Ouvindo - O que faltou ser - Sandy
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