Páginas

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Metamorfoses



Hoje parei para pensar, sobre minhas versões. Sobre meus diferentes eu's que, durante cada idade foram, entre muitos erros e acertos, certas lições que nunca parei de fato para refletir. 

Encarei meu reflexo no espelho e encarei a coragem dos meus 16 anos. A menina que se achava mulher, tão desbravadora e cheia de certezas que eu era. Parecia que eu tinha sempre uma resposta na língua, verbos sempre no imperativo, uma energia tão viva que contagia. Eu tinha uma luz viva, uma crença na vida de que tudo daria certo que era inabalável. Tenho um nome melhor para isso, fé. Eu poderia até dizer que eu sonhava alto, mas não seria a palavra exata, eu tinha convicção que isso já era uma realidade, uma realidade num futuro distante, porém, uma realidade. Eu achava o maior dos absurdos ver adultos descrentes com a vida ao meu lado, parados, inertes, desacreditados. Existia beleza em tudo que eu olhava e era simplesmente impossível que todos também não enxergassem. 

Eu sei o que você deve estar pensando, essa menina deveria estar vivendo um amor cego. 

Ok, eu sempre fui lá um pouco intensa com meus sentimentos. Mas amor, relacionamentos, sempre foi a última prioridade da minha lista, sempre vi a vida como muito, muito além disso. 

Ai, a vida foi acontecendo. Não só a vida, como as responsabilidades, as obrigações, a rotina, os empregos, o tempo passando cada vez mais depressa, as decepções, as mudanças, os boletos, as transformações. 

E no tic tac do relógio, tanta coisa acontece, tanta vida passa e a gente se pergunta, em que parte do caminho eu me deixei? Eu me perdi?

Claro, eu já me pedi várias vezes pelo caminho, já voltei mil vezes para me encontrar. Porém, em determinado ponto da vida, já não tem mais como voltar, o dano é irreversível, se tem muito mais a perder do que a ganhar. 

E ai, o que a gente faz?

Quantas pessoas vemos por ai, vivendo vidas perdidas, robóticas, fazendo o que esperam delas, sem nenhuma voz ou vontade, perdidas em personagens criados por circunstâncias que, nessa altura, nem devem mais importar, ou nem existem mais. Do que temos tanto medo? A quem devemos tanta obediência? Quem tanto nos condicionou? 

Hoje, eu ainda enxergo leves traços daquele jovem garota sonhadora, desbravadora e corajosa em mim. Vejo sua liberdade e sua praticidade operante. Ainda, as vezes, me lembro de olhar pela janela e ver beleza em um belo dia de sol, lembro de sorrir ao ver uma criança feliz. Lembro de como era e da vida inteira cheia de sonhos que sonhei para mim e corri atrás de ter. Talvez o sonho não tenha saído como o planejado, mas o objetivo foi cumprido, aqui estou eu. 

Me pergunto, o que devo aprender com ela? Como posso ter mais dela em mim? E o que eu, com essa maturidade e um pouco de amargura, posso ensinar para a minha pequena garota sonhadora?

Posso ensinar a ser forte, a me levantar mesmo nas situações mais difíceis e acreditar que vai ficar tudo bem, porque sempre vai. Ter cuidado com as certezas, a vida destrói todas elas, questiona tudo que temos com certo e revira nossa realidade de ponta a cabeça. Não se afastar, de maneira nenhuma da sua família e amigos, você vai sentir muita saudade de tudo isso. Você pode achar que sabe bem viver sozinha, mas não sabe, nunca aprendeu, você sempre se manteve ocupada e distraída e isso te iludiu muito bem, não queira aprender, valorize as pessoas que te amam e que você ama. Se cerque de amor. Ninguém é feliz sozinho. E por fim, confie na sua intuição e não tenha medo de ir atrás dos seus sonhos, como essa velha madura aqui, está, nesse exato momento, com medo de fazer. 

Rompa as amarras que te você está visualizando, elas são invisíveis. Aquela jovem destemida estava certa, nada nesse mundo te prende, nada nesse mundo te detêm, você não precisa viver uma vida que não faz sentido por condicionamentos sociais, não se engane. Aproveite a maturidade da sua fase atual, mas não perca a coragem da sua jovialidade. E nunca se esqueça que, tanto lá, quanto agora, a coisa mais importante e que motiva cada decisão sua é uma coisa só: liberdade. 

Então voa, o mundo ainda é seu e essa história, ainda está apenas no começo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário